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Opinião

Quem se perde de quem

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Marcelo V Chinazzo
Por Marcelo V. Chinazzo – Pai do Miguel e do Gael, jornalista e escritor
Foto Marcelo V. Chinazzo

No verão, a praia vira uma espécie de parquinho, onde todo mundo resolve passar o dia. Todo mundo junto, espremido, bronzeado em diferentes graus de Cristina Ranzolin e, achando que nada de mais grave do que uma queimadura de sol ou de água-viva pode acontecer sob um lindo dia de sol. Porém, é exatamente aí que mora o perigo, na falsa sensação de segurança, achando que todas as pessoas estão ali pelo mesmo motivo, que é curtir o sol e as férias.

Quando temos filhos, todo cuidado é pouco. No verão, ele dobra e nas praias lotadas, triplica. A areia e o mar podem parecer um grande parque de diversões, mas continuam sendo um lugar público, cheio de gente que você não conhece e, certamente, nem todo mundo ali está apenas pensando em água de coco e banho de mar.

A cena é clássica, acontece todo verão e várias vezes no dia, a criança some por alguns minutos, o adulto entra em pânico e, quando a encontra, vem a bronca. “Eu mandei você ficar perto!” Como se a criança tivesse descumprido um acordo formal, assinado com firma reconhecida, enquanto o adulto tomava sol, mexia no celular, bebia alguma coisa ou simplesmente decidiu relaxar. Mas a verdade é menos confortável, a criança não se perdeu do adulto, foi o adulto que se perdeu da criança. Porque quem tem a obrigação de vigiar é quem já tem o cérebro totalmente desenvolvido, quem tem noção de risco, quem sabe que a praia não tem linha reta e nem pontos fixos confiáveis. A criança só tem a missão de ser criança, de brincar, correr, pular e isso inclui se distrair com absolutamente tudo.

Não adianta pedir que ela memorize o guarda-sol, o quiosque ou determinado prédio. A praia é um grande exercício de ilusão espacial, onde o guarda-sol se parece com todos os outros guarda-sóis, o quiosque é igual a vários quiosques e a areia e o mar são democraticamente iguais para todos os lados. Até adultos, os que realmente tem e os que juram ter um excelente senso de direção, entram no mar em linha reta e saem alguns metros para o lado, carregados por correntes muitas vezes imperceptíveis. Imagine uma criança, que corre, que muda de direção atrás de uma bola, que vai junto a um novo amigo ou se encanta por uma simples borboleta colorida e tenta alcança-la. São segundos, mas que podem mudar o curso do seu verão. E se for só se perder e logo encontrar, tudo bem, mas infelizmente, em algumas situações não há reencontro ou ele não é como o esperado. Não é só a areia e quem circula por ela que pode ser perigosa, o mar também é traiçoeiro.

A criança não anda em linha reta, pequenos desvios vão se somando, e quando ela percebe, já não está mais onde achava que estava. Não porque foi irresponsável, mas porque ainda está aprendendo a se orientar no espaço e o seu cérebro prioriza a brincadeira, não o mapeamento do território. E um ambiente como a praia onde há poucas referências fixas, muita gente passando, vento, inclinação da areia, barulho e movimento, o desencontro fica ainda mais fácil.

Uma criança não se perde de repente, ela vai se afastando aos poucos, naturalmente, sem perceber. Quem deveria perceber é o adulto, por isso, não adianta brigar depois, nem terceirizar a culpa. Criança não é responsável por si mesma, muito menos por outras crianças, o único responsável é você, adulto. Um segundo de distração pode transformar suas férias em desespero e, em casos extremos, marcar o resto da vida.

Verão é tempo de descanso, mas sempre com cuidado e responsabilidade, principalmente quando há crianças junto. Se você foi a praia com uma criança, fique atento, fique de olho, pois todo cuidado é pouco.

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